top of page
Buscar
INFLAMÁVEL

Corpos sementes: A Vida no Engenho de Cana de Açúcar


Corpos Sementes: A Vida no Engenho de Cana de Açúcar


Clique na imagem para assistir

O Coletivo Inflamável através do edital “Lei Aldir Blanc - Inciso III | FORTALEZA - Fomento a Grupos e/ou Coletivos Culturais (participação de GRUPOS)” lançou o Documentário “Corpos Sementes: A vida no engenho de cana de açúcar”. Trata-se de uma produção audiovisual a partir de uma coletânea de arquivos em vídeo, áudio e fotos, material este que faz parte do processo de pesquisa do Coletivo Inflamável para o espetáculo Margarida Contra Tanques.

Alguns meses antes...


Era fevereiro de 2020 quando 7 artistas se reuniram no território do Grande Bom Jardim, para conversarem e trocarem experiências vividas, entender o porquê de estarem ali naquele dia, o porquê de se unir e se juntar para fazer arte. Nesse dia, o Inflamável nasceu oficialmente! A partir do anseio por um espaço onde pudéssemos criar trabalhos que agregassem os desejos compartilhados em comum.

Tão logo nos juntamos como Coletivo os estudos já começaram, até chegarmos em Margarida Maria Alves, líder sindical dos trabalhadores do canavial da usina Tanques na Paraíba. Defensora dos direitos humanos e trabalhistas, foi uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de liderança sindical no Brasil, assassinada nos anos 80 enquanto buscava fazer cumprir os direitos trabalhistas para a sua comunidade.

A história de Margarida nos trouxe várias reflexões sobre a mulher no trabalho e a mulher na frente de uma liderança, sobretudo naquela época onde, para as mulheres, a visibilidade e o reconhecimento no mercado de trabalho era ainda mais difícil. E foi a partir da história real de Margarida que o Inflamável mais do que nunca sentiu necessidade de falar sobre a mulher e colocá-la como protagonista em seu primeiro espetáculo. Além disso, já era desejo também pautar sobre questões relacionadas ao trabalho. Então, ao conhecermos a história de Margarida e posteriormente pesquisar e estudar sobre a vida em uma usina sucroalcooleira, já não precisamos discutir tanto sobre o tema para nosso espetáculo - todos os integrantes já estavam envolvidos com a história e se reconheciam nela.

Margarida é semente!

Margarida Maria Alves continua viva não só na história, mas na memória e coração de todos aqueles que se inspiram em sua luta para buscar um lugar melhor. Através dela, várias outras Margaridas nasceram! E podemos dizer que nosso espetáculo, que inclusive leva seu nome, é uma de suas sementes. Sementes que se plantam em experimentação. A semente que agora entra no processo, delimitando um espaço que vai ser de jogo. Delimitação esta que é efêmera e puramente simbólica, ela pode e deverá ser invadida. São sementes que dentro da terra, regadas pela água da vida, tornaram o lugar mais livre, mais fluido. Ali ocorreram palavras, movimentações, sons, imagens, símbolos.

Durante a construção e montagem do espetáculo Margarida Contra Tanques, percebemos que todos esses processos em conjunto nos conectam pelo movimento do corpo do outro, “como ele chega até mim e o que eu faço quando ele me atravessa”. Contra um corpo cotidiano que insiste em não se fazer perceber. Uma luta interna em procurar entender o que parecia ser óbvio.

Temos braços, pernas, troncos, cabeças que se movimentam em busca de harmonia, que vão e voltam e rodopiam, e parecem voar. Que se lança ao chão, que se esfrega nele, que descansa nele. Corpos que caminham em direção ao caos! Um conflito interno que é necessário para criar novos saberes. Rasuras que se preenchem com o novo. Uma investigação do corpo do ator, um corpo destroçado. Que aprende, desaprende e reaprende. E fomos e voltamos várias e várias vezes, e cansamos, nos esgotamos, e gostamos! Foi gostoso, libertador! Abrimos muitas novas rasuras que ainda estão sendo preenchidas. E como é bom sentir isso…

São muitos os desdobramentos que as ações revelam. E o trabalho se torna empolgante, rico, fertilizado. Flores belas já são previstas, flores que carregam no seu interior elementos muito característicos que só essa montagem possui, afinal cada processo é um processo e o nosso permanece carregando nosso jeito de ser, que sim é cheio de estranhamentos, complexidades e sensibilidade.

Essa Margarida é regada com o suor que escorre dos rostos de corpos que se jogam na rua ou na sala de ensaio, na terra ou no concreto. Um suor que ainda não pode se juntar com o outro, em tempos onde temos que nos distanciar por motivos já conhecidos. Mas nossa fervencia pode ser sentida por cada um que passa nas ruas dessa cidade há meses abandonada, e que aos poucos volta a ser habitada de novo. Nela estamos redescobrindo o que outrora era tão comum que se tornou invisível, como uma igreja e sua arquitetura, um escorrega de criança, telefones públicos deteriorados, árvores derrubadas em uma das cidades mais quentes do país, a presença da religião na vida das pessoas e até uma árvore Pau-Brasil, inspiradora do nome dessa nossa terra invadida.

Caminhando pelas praças que escolhemos para ocupar, analisando cada canto. Compartilhando uns com os outros o olhar individual de cada ator e atriz com o espaço. Partilhando com o outro as relações e sensações que o espaço provocou interiormente. Explorando aspectos da teoria viewpoints de relação com espaço: Arquitetura, Geografia e Topografia. Jogando no espaço e brincando com ele... Percebemos proposições muito interessantes, e cada integrante pode explorar suas individualidades criativas, e promover trocas de sensibilização que aquele espaço causou em seu íntimo.

Ainda houveram momentos de troca com aqueles seres estranhos - para nós, que paravam e observavam de longe com olhares curiosos sobre o que estávamos fazendo naqueles espaços. Ou aqueles que apenas param, olham e vão embora, também os que se aproximam e ficam atentos a cada experimento e interagem, tornando-se parte da cena.

Nós enquanto corpos sementes ocupando a cidade pouco arborizada, carregamos a função biológica de proteção ao embrião. Uma germinação a partir de uma história que não começou nem terminou em Margarida. Somos parte dessa história tanto quanto aqueles que estão sendo retratados nela. Olhamos para este espetáculo e nos enxergamos como se tivéssemos de frente a um espelho. Somos uma Margarida! E talvez aqueles seres estranhos que observavam ou invadiam as cenas, também são, por isso a inquietação e o coração inflamado que fizeram eles notar o ensaio de “Margarida Contra Tanques” mesmo que estivessem de passagem por aquele local.

E há muito suor derramado regando o solo da nossa plantação. Somos corpos sementes capazes de nutrir embriões de sonhos, para que eles tenham solo favorável para seu crescimento e desenvolvimento. Mas é com muita luta, muito sangue foi derramado por esse lugar!

O documentário...

O Coletivo Inflamável visitou o engenho de cana de açúcar no município de Deputado Irapuã Pinheiro, no qual tem como principal produção o mel e a rapadura. O local foi visitado para pesquisa do nosso espetáculo Margarida Contra Tanques, e na oportunidade, foram realizados vários registros. Parte deles não tinham sido divulgados em nenhum meio de publicação, compondo apenas, o nosso acervo de pesquisa para o espetáculo já citado.

Aproveitamos então, todos esses materiais em vídeo, imagens fotográficas, registros em texto e conteúdos em áudio, realizados na visita ao engenho, para a produção do documentário “Corpos Sementes: A vida no engenho de cana de açúcar”, com o desejo de compartilhar nosso acervo de pesquisa para o Espetáculo Margarida Contras Tanques, com o público. Pois entendemos a importância do teatro como forma de expressão artística que contribui para a formação e conscientização do exercício de cidadania, bem como uma oportunidade de contribuir com a valorização do patrimônio histórico de arte e cultura do Ceará em acervo digital.

Além disso, experimentar o teatro trabalhando com outras linguagens como o audiovisual, permite tornar nossas produções teatrais mais palpáveis ao nosso público durante esse período de pandemia. Abrindo espaço para pensarmos no meio digital como uma ferramenta capaz de nos aproximar do público neste momento em que o palco ainda precisa estar vazio, e os acentos dos Teatros sem quem os ocupe.

Colocando em pauta o trabalhador nordestino, em destaque aqueles que trabalham nos engenhos de cana de açúcar, nosso documentário abordará o cotidiano desses trabalhadores no campo de trabalho, procurando conhecer de perto o dia-a-dia desses personagens reais, no engenho. Busca ainda levantar reflexões acerca do contexto social de dominação capitalista que fazem parte há décadas do cenário brasileiro, sobretudo a Indústria Agrícola, um dos pilares da economia do país e incoerentemente, o campo de mercado que mais sofre com o desrespeito aos direitos trabalhistas.

Todo o material produzido no município de Deputado Irapuã Pinheiro foi revisitado para sistematização a fim de construir uma sequência poética e estética, utilizando a ferramenta audiovisual em colaboração com outras linguagens artísticas como o Teatro, Artes visuais e Música, dando origem ao documentário “Corpos Sementes: A vida no engenho de cana de açúcar”.

Revisitar a trajetória de construção do nosso espetáculo de teatro Margarida Contra Tanques, nos possibilita ainda poder voltar ao passado, pela necessidade de aprender com os pensamentos que semearam o nosso processo. Trilhar novamente nossa trajetória de estudos e pesquisas, é não fazer esquecer nossa semente que deu Gênesis a tudo o que hoje construímos. Nos permitindo perceber, compreender e conhecer outras narrativas sobre a vida no engenho de açúcar. Embora o ambiente no qual nosso espetáculo se passa seja em uma usina sucroalcooleira de grande porte, ter visitado de perto a produção de um engenho cooperativo, agregou muito ao nosso espetáculo e na construção dos nossos personagens. Sentimos a necessidade também de utilizar novos materiais para complementar o vídeo documentário produzido, precisando gravar depoimentos do nosso elenco sobre a visita ao local e narrações de textos produzidos especialmente para o documentário.

O vídeo documentário foi veiculado nas duas plataformas virtuais do Coletivo Inflamável, o IGTV e YouTube. E pode ser conferido através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=UL0blsW8pVc&t=94s




17 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page